sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

...e a Andorinha bateu asas...e voou...

"A expressão reta não sonha. Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode tazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo."
Manoel de Barros


  Este poema reflete a minha percepção de que nós, educadores, precisamos transgredir e tornar a nossa sala de aula, o nosso universo de ação pedagógica, em um espaço dinâmico, de permanente reinvenção dos caminhos para que possamos construir uma educação com maior includência de vida, maior solidariedade, que se desdobre em uma comunicação mais espontânea e verdadeira no cotidiano escolar, permitindo a ampliação do olhar de nosso aluno e de nós mesmos diante da eterna novidade que o mundo nos propõe.
  Acredito em uma educação que objetiva o cultivo da alma, da sensibilidade que nos aproxima de nosso ser e amplia o nosso vir a ser, diante da honestidade entre educadores e educandos quando da manifestação e respeito pela identidade que construímos em nosso caminhar.
  Jean Jaurès quando afirma que "não se ensina o que se sabe, só se ensina o que se é. Portanto, só se aprende com o que se é, na profundidade da máscara que nos torna pessoas" nos remete à grande lição de Carl Jung para a educação - a responsabilidade do educador está menos no método que utiliza do que na personalidade, postura e identidade que ele revela para os educandos - é essa transparência que exige a simplicidade e generosidade de se aproximar dos alunos de alma aberta. Se assim o fizer, o professor estimula seus alunos ao reconhecimento de sua alma, um encontro com a sua sensibilidade, revelando assim as possibilidades de uma cidadania plena, fielmente estabelecida em sua identidade única.
  Trazer a arte para o cotidiano escolar não se resume às aulas de educação artística ou visitas a exposições de arte, vai mais além, educar com arte exige maestria de entender que o caminho para a sensibilização de nossas vivências se faz com poesia, com uma bela escultura ou um quadro de Chagall, mas também se faz no gesto verdadeiro de criar conjuntamente com os alunos a sua própria arte de viver. Arte essa que nos permite enfrentar os desafios da indisciplina por exemplo, cultivando o cuidado que parte do princípio do respeito, tolerância e compaixão.
  O projeto Anima Ludens permitiu a mim essa vivência, que em muito me enriqueceu, e afirmou o caminho que busco na minha profissão e também na vida. Caminho esse do qual muito me orgulho e registro aqui minha gratidão a todos que participaram comigo nesta experiência e apoiaram o projeto.

Cristiane Gonçalves


(Foto: Andorinha do Mar - Sterna Hirundo)

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Cristiane, por acreditar e se envolver neste belo projeto de vida!!! É tão bom querer e ver se concretizar nossos ideais em alunos e colegas, tendo apoio do colégio com o qual nos identificamos.
É através de cada um de nós, PROFESSOR - EDUCADOR que ganhamos espaço para continuar formando pessoas mais justas e que tenham respeito pelo outro.
É através de exemplos generosos, como o do grupo de vocês, que não se desiste nunca e que se canta que valeu, vale e sempre valerá a pena.
Fico muito feliz desta sua busca e encontro com você mesma.
Beijo carinhoso, porque te admiro muito!
Leila.

Anônimo disse...

Querida Cristiane:

Fico felicíssima que vc tenha colocado sua criatividade e seu amor nesses projetos.
Parabéns. Você está inteira num caminho que lhe preenche. Que alegria.
Obrigada pela partilha.
Continue partilhando.
Bjs.
Clarice Nunes